terça-feira, 27 de novembro de 2007

Voilà, la terre de la baguette


Quem imagina, alguém vindo fazer estágio ou etc em Paris, fica logo a delirar sobre as andanças pelas ruas românticas, as luzes piscando na torre Eiffel...
a vida boêmia dos cafés comendo croissants, tomando vinho, mal sabendo que como em todo lugar, uma coisa é estar com sua maquininha a passeio e outra é estar num lugar para morar...
Para começar, se eu tinha qualquer ilusão sobre as baguettes perdi....visto aqui a maioria das pessoas atravessam a rua com elas, debaixo do braço, dentro do metrô...
ai me dá uma agonia em pensar que só passar uma manteiguinha, fazer um café, vai fazer esquecer o percurso que ela teve para chegar até a mesa....cruzes...!
Aliás, indo no wikipédia, uma das versões que vi lá é que a baguette é do tempo das batalhas napoleônicas, era alimento para os soldados em suas longas caminhadas, por causa da sua capacidade de conservação.
Hum, agora entendi: Então, desde lá...que levavam debaixo do sovaco...!!!
Tá vendo quase tudo tem seu fundamento histórico!
Ah e muitos dos sandubas aqui são feitos com as tais baguettes, e tudo tem sempre muita manteiga...nossa, como tem! mas esse nem é o problema maior, difícil é você pedir um e o vendedor pegar o dito cujo com aquela mãozona... sem nem um guardanapo...e te entregar...
haja sensibilidade antropológica!
Mas, o problema original eu investiguei, está desde as padarias e supermercados....
Nas padarias, dão um papelzinho minúsculo para você segurá-las, e no Supermercado elas são maiores que o saquinho, assim nem que você não queira, vão tocando em tudo e todos pela rua...
para fazer valer o dito popular, eu não me arrisco a sair: cutucando parisiense com vara curta....
Mas, por falar em supermercado, neles encontro muitas curiosidades...
sabe aquelas manias de comer uma uvinha....uma coisinha aqui outra ali no supermercado?
eles também têm...
Com o papo de ecologia e etc...dia desses cheguei no supermercado que sempre compro minhas coisinhas...e putz...nada de sacolas...papo políticamente correto até entendo..., mas conversando com um amigo, notamos que um pacote de biscoito vem com tanto saco que passa até a vontade de comer... e dali relativismo....
Tem muitos velhinhos e velhinhas...fazendo suas compras sozinhos...aliás, como eles são sozinhos por esses lados...
mas aqui em Paris nem todos são corteses, como por exemplo, achei os ingleses...
e a aventureira mor aqui semana passada, entra no mercado e não podendo ver um velhinho fui me disponibilizar a ajudá-lo a tirar as compras do cestinho, podia imaginar o que viria, mas lá fui eu ... e ele foi enfático, nem olhou para mim, e soltou um:
- NON!
mas, não custa tentar!
Aliás, alguns mitos aqui se confirmam e outros se reconfiguram... no supermercado também descobri que o mito dos franceses não tomarem banho, não é propriamente isso, eles não lavam os casacos..., estes atravessam as quatro estações e parece que só vêem umas gotinhas de água quando cai uma chuvinha...e tome civilização!
Não se assuste se o ar parecer um pouco estranho, com um cheirinho de cebola...e não sejam precipitados em suas afirmações, é só um casaco precisando ser lavado.
Mas, além das curiosidades, temos as neuroses cotidianas..., depois de atentados e etc....entrar na Sorbonne ou no Collège de France é sempre uma rotina, muitas vezes, fatigante...
abre bolsa, mostra carteira, dizer para onde vai...
Neste último, um dia desses um frio desgraçado e não era possível esperar no prédio do lado de dentro...questão de segurança!?
E em dias de greve, como o dos cheminot (e) s (ferroviários) ... policiais da Mairie por todos os lados, fechando as ruas da Universidade, com barreiras de carros e humanas, com escudos tão grandes, que ao sair de um seminário...esfreguei os olhos para ver se eu estava enxergando direito ou se de fato já estava declarada a 3a. guerra mundial, durante as duas horas que eu tinha passado imersa nos meus devaneios...
Estes dias, a onda da vez, são os conflitos nos subúrbios (banlieueus) ...
o cristal está rachado ao meio... mesmo no velho mundo... crises urbanas, desigualdade social, e mesmo a encantadora Paris, não está numa "redoma de vidro".
Há mais do que Torre Eiffel, Notre Dame e Monalisa para ver...
basta olhar para além dos cartões postais...

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