segunda-feira, 2 de junho de 2008

Travessuras e Travessias











Travessuras e travessias

Os dois tocaram-se com os olhos,
Eram apenas duas crianças numa manhã fria, brincando, enquanto a vida séria lá fora chamava o mundo para uma ordem, que eles desconheciam.
Dentro de si apenas existia a chama de uma quase inocência ... de seguir vivendo.
Enquanto tropeçavam na grama, corriam e arrancavam sorrisos um do outro, alguma coisa urgentemente surgia: o tempo. E com ele, vinham os anos e as marcas que desenham nos rostos traços carrancudos ou rugas de lembranças e esquecimentos. Mas, eles eram apenas duas crianças de faces rosadas e gestos leves e suaves...
Esqueciam das horas, seguravam apenas nas mãos um do outro e giravam, enquanto o parque também rodava com eles, e as flores, os pássaros, todos rodopiavam ao som da canção que somente eles escutavam, enquanto trens passavam, buzinas tocavam, pessoas chamavam...
As notas se faziam sentir, mas a melodia nem por todos era conhecida. Travessuras e travessias era o que seus passos conheciam, pisando sobre a grama ainda fria dos dias escuros do outono e das noites frias do inverno... os pés tocavam e aqueciam o inenarrável tempo, que passava e deixava vir o cheiro das flores da primavera, perfume que inundava a casa, os rios, as fotos, os quadros, que pincéis vorazes tentavam acompanhar...
O vento soprava em seus rostos, mas já não tão fortemente sobre o rio...as folhas dos livros sendo levadas, rostos do passado que não viveram...
Suas mãos seguravam os fios que teciam a narrativa do que eram... mas neles algo ignorava ou desconhecia o que se passava, apenas suas gargalhadas e sonhos saltitantes invadiam o que ainda os separava e até mesmo o tempo e a distância tinham aprendido a compreender, porque ousavam apenas serem felizes, esta era a magia da brincadeira. (20 de fevereiro 2008).