domingo, 23 de dezembro de 2007

Borboleta Menina...




Para Ana Maria Peçanha (Paris 23 de dezembro 2007).
Ela todos os dias fazia o mesmo percurso, entrava no trem e seguia no rumo descrito no bilhete, mas de alguma maneira, sua alma desejava seguir para além daquele percurso...
Da janela de seu vagão, ela ia contemplando a paisagem e desenhava em papéis da alma esse jogo de encantamentos que no fundo é o que nos permite seguir vivendo ... e nesses quase sonhos ela se imaginava indo para países distantes, se imaginava usando outras máscaras, mudando de face e sentimentos nessa brincadeira de ser só a si mesma...
Mas, o que ela gostava mesmo era de imaginar que era uma borboleta, sim, uma dessas alegres e saltitantes, que sobrevoam jardins diversos e não tem tempo nem hora para borboletear...
Imaginou tanto que um dia, de repente, uma dessas coloridas pousou na janela do trem e perguntou:
- Bom dia menina, para onde você está indo?
Ela aturdida, respondeu... que não sabia....
E a borboleta tornou a perguntar:
- Como não sabia para onde estava indo, ela não poderia acreditar nisso, ao seguir numa direção não era preciso um mínimo roteiro? ou com os humanos era diferente?
Ela como borboleta sabia que todos os dias teria que renovar suas cores, encontrar belas rosas para conversar e passear no maior número de jardins que ela pudesse....pois, era esse o ofício da sua espécie...
A menina olhava a borboleta, que se balançava toda enquanto falava...e esta continuou:
- Você não vai me dizer mesmo para onde está indo?
Perguntou a borboleta curiosa.
A menina respondeu...
- que estava indo para a escola, tinha que cumprir horários, uma agenda semanal...fazer provas, assistir aulas, submeter-se à vontades alheias e almas ranzinzas, mas que andava bem cansada... de aprender letras e números quando o que queria mesmo era poder sair para longos passeios, sobretudo nesses dias em que sua alma pedia certos encantamentos...
A borboleta então a convidou para ir à sua casa... Mas ela precisaria encolher... para poder entrar e também precisaria aprender a voar...
A menina não pensou duas vezes, não sabia como isso iria acontecer, mas aceitou de imediato. Ora, tudo o que ela queria era ter uma manhã diferente, e não ter que ficar só indo e vindo no seu trem ... Esta parecia uma boa maneira para começar...
De repente ela se viu... num jardim muito grande e bonito, parecia a casa da sua avó, cheio de rosas e de milhares de borboletas e cada uma parecia mais bonita que a outra... e alvoroçadas todas cumprimentava a ilustre visitante...
A menina Ana, deu-se conta de que era do tamanho das novas amigas... e todas queriam saber como era seu mundo... o que ela fazia... e o que tinha para contá-las....
A menina começou a lhes falar de tudo o que acontecia no percurso de sua viagem, todos os dias trem .... e as borboletas estavam encantadas com a descrição, com os detalhes que a menina dava... e esta por sua vez, começou a se dar conta do tanto de coisas que acontecia no seu caminho...enquanto ela apenas encostava a cabeça na janela e se deixava viajar....
Seu cotidiano não era tão banal quanto ela imaginava...
Ela também tinha ainda suas cores e sua beleza...
Ela, ao longe ouviu uma voz perguntando - era uma das borboletas menores -
uma borboleta menina...
- mas porque você anda sempre de trem, você não sabe voar?
Começou a explicar a pequena, como se fosse gente grande:
Aqui, no nosso mundo, nós aprendemos desde cedo... e temos que fazer isso com delicadeza para fazer nossos pousos nas pétalas das rosas e não machucá-las.... não é o mesmo para vocês?
A menina disse que não... que os humanos tinham inventado várias coisas, entre elas o trem, o avião... para fazê-los chegar mais perto das outras pessoas, realizar suas viagens.... mas não sabiam voar....
A borboleta respondeu:
- Se você quiser aprender, nós podemos ensiná-la...
Abriram caminho, para que pudessem ter espaço para alçar vôo e ao som da contagem regressiva de uma das borboletas, elas correram todas juntas pelo lindo e grandioso jardim, em várias cores e tamanhos, as borboletas e a menina...
e voaram... longe...livres...
O vento soprava forte, era quase inverno ... e aos poucos uma sensação de brisa forte no rosto,
cheiro de rosas no ar e pensamentos leves...
a menina voava...
Abriu os olhos, esboçou um sorriso, sua estação era a próxima...
Logo, chegaria ao seu destino...
O trem, ela e sua alma de borboleta...


Paris 23 de Dezembro de 2007/



domingo, 16 de dezembro de 2007

Meninices...


Poema do Menino Jesus

Num meio-dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu tudo era falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque nem era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E que nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o Sol
E desceu no primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar para o chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural.
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é por que ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do Sol
A variar os montes e os vales
E a fazer doer aos olhos dos muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam ?

Alberto Caeiro

Árvores e o Tempo...

Olhei pela janela e diante dela... e da ausência das folhas nas árvores, notei que os pinheiros ali estão, verdes, fortes e resistentes diante da passagem do tempo... trazendo-me beleza para além do que os olhos podem ver... os pensamentos se soltam e brincam com as saudades... e como já disseram mesmo diante da dura realidade prefiro o delírio... prefiro
os sonhos...
a vertigem ...
de seguir vivendo como se não fosse a mesma... como se o tempo mesmo não existisse...
afinal, como disse Guimarães Rosa, no seu exílio no grande sertão da vida ... talvez nem a gente mesmo seja de verdade...










domingo, 9 de dezembro de 2007

Est(a)ções....

Entre tantas coisas por dizer já não conseguia dizer nada, parecia ser apenas um murmúrio como o do vento, enquanto gotas de chuva caiam molhando as ruas....
Existia em si algo que beirava à loucura, mas que contornava um encanto ainda com as coisas miradas, os rostos desejados....
Mas sabia não era tão forte para sustentar o peso do seu próprio rosto nas mãos, não conseguia ser somente inteira, queria o direito de também ser pedaços....
Por que teria que ter verdades, dar seguranças e ser forte? não, em si latejava os excessos de como sentia o mundo, e ele a assombrava.
Em si, construia imagens e desvelava sonhos, os versos se perdiam no emaranhado de pensamentos que soltava pela janela.
O quarto aquecido não reconfortava a alma.
Ao deitar uma infinidade de seres sobrevoavam a cama, cheiros de lugares, vôos de borboletas contemplados nos jardins por onde passara, ipês rosas que acariciavam a imaginação, "horas de tantas pessoas"... e essas imagens que concatenavam um universo disperso de si...
Se fosse traçar a sua própria autobiografia, diria que era algo entre a busca por palavras perdidas, encontradas e esquecidas, e que só sabia ser: sendo!
tudo e de certa maneira nada, de certa maneira, pois não saberia traduzí-lo.
Suas inquietações pareciam não terem o direito de serem reveladas de tão íntimas que eram.... mas o que teria a revelar? além do próprio segredo que era para si mesma.
Nada preencheria esse vazio, mas também havia em si lugar para os encantos e surpresas... mas carregava essa lacuna inabitada por palavras.
Depois que o sol havia dado lugar a essa estação até então desconhecida, via as folhas caindo uma a uma diante de si e com elas adornava o tempo, as horas, as esperas... enquanto ia se consumindo e se desfazendo em imagens... como se rostos se transfigurassem e nem mesmo soubesse se poderia ser contemplada num espelho ou num olhar...chuvas brotavam em seu rosto, e lá fora, como dentro de si, o inverno chegava.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Voilà, la terre de la baguette


Quem imagina, alguém vindo fazer estágio ou etc em Paris, fica logo a delirar sobre as andanças pelas ruas românticas, as luzes piscando na torre Eiffel...
a vida boêmia dos cafés comendo croissants, tomando vinho, mal sabendo que como em todo lugar, uma coisa é estar com sua maquininha a passeio e outra é estar num lugar para morar...
Para começar, se eu tinha qualquer ilusão sobre as baguettes perdi....visto aqui a maioria das pessoas atravessam a rua com elas, debaixo do braço, dentro do metrô...
ai me dá uma agonia em pensar que só passar uma manteiguinha, fazer um café, vai fazer esquecer o percurso que ela teve para chegar até a mesa....cruzes...!
Aliás, indo no wikipédia, uma das versões que vi lá é que a baguette é do tempo das batalhas napoleônicas, era alimento para os soldados em suas longas caminhadas, por causa da sua capacidade de conservação.
Hum, agora entendi: Então, desde lá...que levavam debaixo do sovaco...!!!
Tá vendo quase tudo tem seu fundamento histórico!
Ah e muitos dos sandubas aqui são feitos com as tais baguettes, e tudo tem sempre muita manteiga...nossa, como tem! mas esse nem é o problema maior, difícil é você pedir um e o vendedor pegar o dito cujo com aquela mãozona... sem nem um guardanapo...e te entregar...
haja sensibilidade antropológica!
Mas, o problema original eu investiguei, está desde as padarias e supermercados....
Nas padarias, dão um papelzinho minúsculo para você segurá-las, e no Supermercado elas são maiores que o saquinho, assim nem que você não queira, vão tocando em tudo e todos pela rua...
para fazer valer o dito popular, eu não me arrisco a sair: cutucando parisiense com vara curta....
Mas, por falar em supermercado, neles encontro muitas curiosidades...
sabe aquelas manias de comer uma uvinha....uma coisinha aqui outra ali no supermercado?
eles também têm...
Com o papo de ecologia e etc...dia desses cheguei no supermercado que sempre compro minhas coisinhas...e putz...nada de sacolas...papo políticamente correto até entendo..., mas conversando com um amigo, notamos que um pacote de biscoito vem com tanto saco que passa até a vontade de comer... e dali relativismo....
Tem muitos velhinhos e velhinhas...fazendo suas compras sozinhos...aliás, como eles são sozinhos por esses lados...
mas aqui em Paris nem todos são corteses, como por exemplo, achei os ingleses...
e a aventureira mor aqui semana passada, entra no mercado e não podendo ver um velhinho fui me disponibilizar a ajudá-lo a tirar as compras do cestinho, podia imaginar o que viria, mas lá fui eu ... e ele foi enfático, nem olhou para mim, e soltou um:
- NON!
mas, não custa tentar!
Aliás, alguns mitos aqui se confirmam e outros se reconfiguram... no supermercado também descobri que o mito dos franceses não tomarem banho, não é propriamente isso, eles não lavam os casacos..., estes atravessam as quatro estações e parece que só vêem umas gotinhas de água quando cai uma chuvinha...e tome civilização!
Não se assuste se o ar parecer um pouco estranho, com um cheirinho de cebola...e não sejam precipitados em suas afirmações, é só um casaco precisando ser lavado.
Mas, além das curiosidades, temos as neuroses cotidianas..., depois de atentados e etc....entrar na Sorbonne ou no Collège de France é sempre uma rotina, muitas vezes, fatigante...
abre bolsa, mostra carteira, dizer para onde vai...
Neste último, um dia desses um frio desgraçado e não era possível esperar no prédio do lado de dentro...questão de segurança!?
E em dias de greve, como o dos cheminot (e) s (ferroviários) ... policiais da Mairie por todos os lados, fechando as ruas da Universidade, com barreiras de carros e humanas, com escudos tão grandes, que ao sair de um seminário...esfreguei os olhos para ver se eu estava enxergando direito ou se de fato já estava declarada a 3a. guerra mundial, durante as duas horas que eu tinha passado imersa nos meus devaneios...
Estes dias, a onda da vez, são os conflitos nos subúrbios (banlieueus) ...
o cristal está rachado ao meio... mesmo no velho mundo... crises urbanas, desigualdade social, e mesmo a encantadora Paris, não está numa "redoma de vidro".
Há mais do que Torre Eiffel, Notre Dame e Monalisa para ver...
basta olhar para além dos cartões postais...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Prática de esportes...

Não é novidade para ninguém que a prática de esportes faz bem para saúde, mas particularmente esses dias tenho pensado sobre o porquê que todo mundo sabe disso, e ao mesmo tempo é tão difícil ter uma rotina diária de exercícios, etc..e tal...
Eu na verdade sempre imaginei que levantamento de copos e mesmo a prática regular de virar páginas de livros fosse esporte. No entanto, ao descobrir que estou acima do peso percebi que não...
Até me animo para caminhar, mas um amigo me disse que não é caminhar como quem está no museu...tem que ter ritmo....fazer o coração funcionar e talz...
ufa...cansei só de pensar...
Tudo bem, mas e o frio? até consigo me imaginar correndo, imaginar, que fique claro....
perto da praia....tomando uma água de coco, com aquela brisa de 3o graus...
mas abaixo de zero?
Esse final de semana mesmo olhei a meteorologia... no Nordeste a média era 32 graus....
e Paris -2... percebe a diferença?
O mesmo amigo me disse que eu teria que sair bem agasalhada...que tudo daria certo ...
Eu juro que tentei, pelo menos imaginar a cena, e me parece cômica, percebam:
correr de toca, cachecol, duas blusas, duas calças e um sobretudo...me parece medonho!
e hoje amanheceu chovendo...então, além disso, acrescente um guarda-chuva...
se eu conseguir fazer isso, vou tentar fazer aquele número de soltar fogo pela boca no inverno, no sinal, acho q vou fazer o maior sucesso e ainda ganho umas moedinhas em euro....

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Little Venice...
Westminster


O outono já arrastou praticamente todas as folhas das árvores de London City... e o vento frio já se faz presente...como em Paris, hoje olhei o parque Montsouris com um certo desalento diante de seus galinhos secos apontados para cima, como que esperando a neve.
Mêtro, trens...em greve....
olho a metereologia em Paris...de 0 graus, o tempo melhorou e nesse momento faz 2...
não sei porque, mas não consigo sentir a diferença...
o passeio mais longo que me animo em fazer é ir ao supermercado, andando rápido como todos, me enroscando no cachecol...e sem muita agilidade para fazer as coisas usando luvas....
Alors....e haja imaginação para esperar o inverno...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Atravessando o Canal da Mancha...

Gare du Nord-Paris...



Tower Bridge


King's College...








No final de semana estive em Londres, a "terra do Big Ben" é bem perto da "terra da baguette", não posso dizer que conheci a cidade, mas gostei das impressões que tive dela...grande, intensa como as grandes metrópoles, mas com um tom aristocrático...e as devidas referências reais, na sua arquitetura, nos monumentos pelas ruas e mesmo nas cabines telefônicas...
Um pouco ao modo Sherlock Holmes...vou juntando as peças desse emaranhado de coisas que compõem um lugar ... lindos parques...pracinhas interessantes, os atalhos que vão contornando as ruas, as pontes, as estações centenárias do metrô londrino...
Fiquei perto da gravadora Abbey Road, em Westminster, e dá para ver que a beatlemania faz parte do lugar... nem o vento frio espanta as pessoas com suas máquinas pisando na mesma faixa de pedestre que os Beatles pisaram...
Aliás, as cidades são compostas de rituais, que a contam... e para isso os símbolos vão se tornando presentes para atualizar suas crenças, histórias, mitos...e Londres me parece intrigante por isso, por ser tão grande que abriga o lado da realeza, do centros comerciais, da alta tecnologia e ainda saímos com a impressão de que de fato ela não se conta inteira...mesmo que estejamos atentos aos ruídos do trânsitos, dos idiomas falados e das imagens cosmopolitas que a montam...a inventam...
Ah também tem o Rio Thames...suas pontes...rio que atravessa a cidade com a imponência do mar...ele a banha e enche os olhos de quem passa...
Nas paredes onde viveram seus habitantes ilustres destaques em bolinhas azuis...e claro não podia deixar de ir ver um dos lugares onde Vírginia Woolf morou...aliás, foi tão intenso ver os manuscritos dela (The Hours...) do livro Mrs. Dalloway, de Bach, Beethoveen...na British Libraire...
O que fica vivo de um lugar são as memórias daqueles que por ela passaram...
Mas, tem também as belezas sutis da natureza, como os esquilos atravessando nosso caminho no Regent's Park...e fazendo pose para fotografias...
os tradicionais pubs, com suas saborosas cervejas e lareiras para espantar o frio...ah e seus sinos que tocam anunciando para os fregueses que façam seus últimos pedidos.
Apesar da curiosidade antropológica, quase me engasgo de susto com as badaladas, aliás os sinos dos pubs deveriam ser mais famosos que o famoso Big Ben...que não se destaca tanto na paisagem da cidade...
Também algo que deveria ser cartão postal de Londres, são suas "velhinhas", como são elegantes e ...bonitinhas...com seus cabelinhos brancos...uma simpatia olhá-las...
Foi uma boa aventura, encontrar amigos, levar o pensamento para um passeio por outros sabores, hábitos e curiosidades...mesmo com o vento frio...
E para encerrar a viagem ainda voltei no último dia da Eurostar na estação de Waterloo...eles estavam eufóricos com a mudança...os cartazes em Paris eram super bizarros....o Mr. Bean...no lugar da Rainha...numa nota de 55 libras...ou um policial correndo pelado numa partida de Rugby...tudo para mostrar que são outros tempos em Londres...
mas o que importa mesmo é voltar para algum lugar com a sensação de que:
"sombras expectantes" nos acompanham, enquanto munidos com documentos que pouco revelam do que somos, seguimos sozinhos nos corredores das estações que: "costumam esperar os viajantes como se não tivessem mais nada a fazer além de aguardar sedentariamente aqueles que não param de se movimentar, partir e chegar" (João Gilberto Noll, Lorde).













quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Outono...

Le Mans
Paris-Cité

Le Mans


Parc Montsouris...Paris...


Nunca tinha prestado atenção tão profundamente na mudança das estações quanto agora nessas andanças pelo velho continente. Depois de um tímido verão, ele chega....e com ele vamos olhando atentamente a mudança nas árvores, as quedas das folhas, o contraste de suas cores....
As folhas caindo em nossa frente enquanto ainda tentamos nos acostumar com o ritmo da cidade, com a queda da temperatura e os novos hábitos...
A sensação de ver as folhas amareladas pelo chão, soprando no vento... e os jardins já praticamente descobertos das proteções frondosas das plantas, restando somente galhos secos a espera do frio, dá um certo desalento e melancolia que, na medida certa, nos leva a pensar o próprio sentido da vida...
Enquanto a estação toma conta da cidade...outras parecem inundar nossa alma... a cidade se fecha? as almas se encerram em seus sobretudos...e nos passos apressados pelas esquinas frias, mas será que completamente?
non, pas de tout...
É possível imaginar, mesmo com o inverno chegando em breve, que a alma poderá estar aquecida se não esquecer de sonhar, e se não se convencer de que pode ser feliz sozinha...para lembrar do verso do Tom, o Jobim...
E a primavera também virá... como a alma alimentada de beleza, de poesia, de encantamentos, de abraços e espantos a exalar perfumes, maciez e cores nos jardins dos encantamentos...
Diante da estações e de suas transformações fora e dentro de nós, é possível lembrar das palavras de Quintana sobre o tempo e que é preciso apenas que cuidemos dos nossos jardins, para que as borboletas venham....




quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O intransponível...

Foto: Lucas Gaspar

Aquela cidade a tirava de si tantas vezes que nem sabia mais quem era, cada retorno era uma composição inefável de tantos encontros e desencontros que já não ousava querer nada, apenas contemplava as ruas e os primeiros habitantes que saiam para a faina cotidiana.
Atravessava as madrugadas há muitos anos em busca de palavras. Mas tinha dias em que elas não lhe diziam nada. As pessoas ao seu redor pareciam usá-las sem pensar que carregavam significados. Nela existiam muitas vidas reveladas, o que só lhe restava arrumar mais uma vez a bagagem e de novo partir, mas já não conseguia sair do lugar, tinha se perdido da ponta do novelo que a tinha levado até aquele lugar. Nada sabia sobre o que poderia vir de quem quer que fosse, mas mesmo assim seguia obstinada, só não sabia para onde. Apesar de ter aprendido a ler a vida, sempre a espantavam os sentimentos humanos, e sozinha ela envelhecia olhando a vida debruçada na janela, contemplando as ruas pelas quais tantas vezes tinha passado leve e feliz.
Entre os fios da lembrança ia tecendo sua existência. Parecia que as linhas da vida se entrelaçavam e o que vivia, sentia e esquecia iam compondo um tecido às vezes indecifrável: um emaranhado de fios que buscavam formar algo definido, mas sempre revestido em um novelo de indeterminação.
Envolta nas noites frias tateava o medo, tentava segurar o mundo pelo o que dele lembrava, tentando não ser somente um corpo esquecido no canto de uma mente ausente ou desconhecida. Os lugares pelos quais tinha passado se desenhavam em imagens de mares, montanhas, e pelo esquecimento das horas... rostos que a seguiam, e se transfiguravam como um porto numa cidade sem mar, olhos que já não via, distâncias que a separam daquilo que não tinha sido... mas ela queria mesmo ser? Como um corpo tatuado de lembranças olhava para a vida, mirando em cada rosto não somente o que se deixa ver, mas desenhando as imagens que foram se compondo em seus anos. Era como se a cada encontro, cada ser que tinha chegado tivesse rasurado o que não tinha conseguido compor, era como que um rascunho de tantas mãos, reinscrita várias vezes e redescoberta todos os dias como um livro que fica guardado e se alegra toda vez que mãos desconhecidas o tocam.As imagens das ruas, o contorno das lembranças, os rostos se misturavam e assim ia compondo a cidade invisível do que tinha se tornado, por detrás das montanhas.
Entre os chamados e os silêncios que escutava, entre os encontros que teve e aqueles que escorreram sorrateiramente debaixo de seus olhos, já não encontrava muito, talvez os rastros de sua própria viagem feita diante da solidão. Ela envelhecia naquela cidade que tinha escolhido morar, mas ainda fiava sonhos e diante do instante entrançava os cabelos em devaneios e ilusões ... Uma vida dedicada às memórias do que talvez nunca tivesse existido. Mesmo que os dias passassem e os silêncios se confirmassem, ela soprava impetuosamente as chamas do vivido... como se isso a refizesse, como se dos sopros pudesse ainda recuperar os anos que tinham ido e deixado somente as rugas do tempo em seu rosto. Seus cabelos cresciam, tão longos quanto os abismo que os separavam...
Sua vida era os riscos que tinha corrido, o que não tinha encontrado, a viagem feita e a solidão de não ter ninguém esperando, escritura de letras vivas e outras que já se apagavam...
Montanhas não foram feitas para saírem do lugar, aos poucos precisou aprender a desatar os nós e os sonhos... Sonhos que insistiam em se juntar um a um, enfeitando-lhe os cabelos, ou teria sido ela que com as próprias mãos tecia nós e enlinhavava sonhos?


Horas


Como deter a ansiedade diante das horas? O compasso das horas, de cada segundo, impregnado de tantas saudades e de tanta solidão?
Seus passos são silenciosos, caminham num compasso ensurdecedor, até que entre badaladas avisam o tempo de levantar e entrar em cena, contar palavras, dando-lhes vida enquanto os olhos se encontram.
Das horas nos chegam a rotina, suas repetições e o inesperado. Nelas percorrem noites insones ou esboçam-se as marcas do sono compartilhado. Delas vem a ansiedade pelas palavras, pelo o que elas farão de nós. Nelas os dedos tocam o inenarrável medo diante do que desconhecemos e do que nos falta. Delas nos esquecemos e nos lembramos, delas escorre a inquietude diante da espera de quem amamos. Nos abraços de seus ponteiros é preciso escolher, deitar sobre o tempo, atravessar saudades, sobreviver suas lentidões e até mesmo os olhares que nos espreitam. Das horas deslizam o passado e novas vidas. Enquanto caminhamos entre areias, entre montanhas, olhares, só existem horas que tentamos preencher com os nossos passos ... e mesmo com os silêncios. Em seus passos, somos impetuosos, e quando nos exilam em esperas, criamos mundos, muitas vezes não existentes, mas que ganham vida, devidos às muitas esperas e as urgências de se ir vivendo.
Delas também atravessa a impiedosa ausência que nos fere, a dor aguda do que não encontramos no outro e mesmo assim insistimos em pedir e esperar. Mas nada podemos fazer diante do que não podem nos dar, é preciso seguir, sufocando perdas, respirando ganhos. Seus passos lentos nos afligem, não menos que quando correm diante de nós e ficamos apenas com o gosto das lembranças.
Nelas o tempo nos fere com suas esperas e seus movimentos impetuosos. Nelas é sempre preciso viver, seja de que jeito for, ferido, sorrindo, chagados pelo incompreensível, mesmo assim escolher, tocar a vida na ponta dos dedos, escolhendo sempre por ela seja qual for a trilha que se fechou ou a que ainda não se abriu diante de nossos pés. Dão-nos asas, mesmo quando enxergamos somente ninhos ... Abrem mundos mesmo quando estamos com os nossos pés fincados no solo onde pisamos. Dos minutos que as compõem cruzamos com o que as esquinas dos desejos nos dão. Fazem-nos esperar e se a ânsia for maior que a espera não poderemos ver o que a sua lentidão poderia ter nos dado. Jogo de minutos e segundos? Jogos da vida. Compasso voraz da existência, que nos pede um pouco de alma, de calma, paciência.
Contar os seus intricados fios e neles compor versos, como se eles nos aproximassem de quem queremos e do que desejamos, como se isso trouxesse o calor de corpos, cheiros dos lugares visitados, como se abrissem portas quando estamos cerrados em nós.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Cidade(s)

Le Mans...
Estação

Homenagem aos precursores da aviação...




Homenagem da cidade às vítimas de perseguições racistas e anti-semitas, aos crimes contra a humanidade.


Catedral

Catedral


Cada cidade tem suas curiosidades, seus paradoxos, suas junções entre o novo e o antigo...
nelas também ficam as memórias dos que nela passam, dos que nelas ficam...
das histórias que se inscrevem nas suas ruas e nos que por elas passam...
o incrível, é ver os lugares, em suas diferenças, sendo configurados à imagem e semelhança dos homens, em suas inquietudes... em suas memórias e transfigurações...
Em Le Mans, no Oeste da França, é possível ver desde as inúmeras obras pelas ruas à Catedral Saint Julien, construída entre os séculos XI e XV... guardando em meio aos ruídos de uma cidade contemporânea, os traços silenciosos e enigmáticos da época medieval.
O que me fez ir a esta cidade foi o evento chamado "25 horas do livro", fazendo uma referência a corrida automobílistica tradicional na cidade chamada de: "24 Horas de Le Mans" e, de certa forma, não perde um lado marcante dos eventos aqui, de uma certa "torre de babel", tinha desde os stands dos livros à venda ao de abaixo assinado pela libertação de Ingrid Bentancourt da guerrilha colombiana...
E apesar do esforço para escutar a fala dos escritores entre as programações infantis...foi uma boa experiência, sobretudo por conhecer um outro lugar, seguir percursos antes desconhecidos, enfrentar o desafio de olhar os outros, e não ter receios de carregar marcas desses encontros...assumir mesmo o risco de ser mudado por eles.


quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Trilhos e Trilhas...

Tramway - Paris
Train RER B

Linha Tramway


TGV- Le Mans


Sempre ao pensar em viagens, imaginei trens, suas linhas de ferro...
pessoas nas plataformas embarcando, outras chegando, letreiros luminosos, indicando chegadas e partidas ... indicando trilhas..., mas nunca revelando de fato as inúmeras viagens que perpassam os pensamentos de tantos que de longe vêm ou partem, apenas como sombras que caminham... mas em si carregam mundos, cenas da vida a se resolver, acúmulos de saudades.
Nas viagens carregamos mundos, somos inundados por eles e o percurso não se reduz somente ao trecho fixado no bilhete do destino, a aventura é dentro de nós mesmos, pelo o que somos, pelo o que se desperta em nós e é reencontrado em cada olhar para o que é estranho, estrangeiro.
Os percursos pelas ruas, as lembranças que se somam aos encontros recentes, os próprios passos são formas cartográficas de nós mesmos diante dos mapas por onde passamos...
Não é à toa que Rilke dizia "ser necessário ver muitas cidades", pois são tantos os labirintos do que somos, impossível auscultá-los estando somente num lugar...




segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Rostos...Cidade...


(Estação Châteux Rouge)


Em Paris... encontramos não somente as imagens de cartões postais...
basta andar por suas ruas...para ver que elas se compõem de rostos...sobretudo de estrangeiros, (estudantes, turistas, etc...), mas de imigrantes... pelas relações de interações e conflitos entre esses povos, as tensões diante das políticas de imigração... são muitas faces que compõem o rosto de uma cidade... e é preciso caminhar muito por ela para desvelar pelo parte do jogo de relações que a formam...
Uma das polêmicas atuais na cidade "luz", referente à imigração, no atual governo, é o projeto de lei sobre a mesma, que coloca como ponto facultativo a inclusão de teste de DNA (informação genética) aos canditatos a reagrupamentos familiares...
Em matéria veículada pelo Le Monde, Primeiro Ministro François Fillon, afirmou não entender o porquê de tanta polêmica, visto que isto permitiria dar a França o direito de escolher sua imigração através de uma política de integração verdadeira, fundada "na língua francesa, na sua cultura e história, no respeito a identidade nacional...
voilà...
"cette loi dont les polémiques ont grossi jusqu'au ridicule, un détail en masquant l'essentiel : qu'elle rendait à la France le droit de choisir son immigration, qu'elle renforçait la qualité des contrôles, qu'elle instaurait une politique d'intégration véritable, fondée sur notre langue, fondée sur notre culture, fondée sur notre histoire, fondée sur le respect d'une identité nationale dont nous n'avons pas à rougir". François Fillon

Pour François Fillon, l'amendement ADN est un "détail" du texte
sur l'immigrationLEMONDE.FR avec AFP 07.10.07 09h01 • Mis à jour le 07.10.07 21h09
http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0,36-964009,0.html