domingo, 29 de janeiro de 2017

Enquanto o mundo não nasce


 O mundo não chegou a nascer. Ainda somos os mesmos ou mais leves do que fomos ontem? 
As cinzas do que foi escrito me traz levezas, entre silêncios seguimos longe, ainda que dentro de mim algo me diga que perto estamos...mas nada sei do tempo e do amor, só me chegam notícias dos sonhos... 23 de setembro 2016



Imagem: calendar of yesterday's wishes-
Rafal Olbinski.

domingo, 15 de janeiro de 2017

A Confissão da Leoa



"Aqueles olhos, de tanta luz, escurecem o mundo. Mas é um escuro bom, um suave entorpecimento de infância. De tão claros os olhos (...) me devolviam qualquer coisa que, sem saber, eu já havia perdido. " Mia Couto. A Confissão da Leoa, 2012, p. 249.

A vida esperada, menos intensa do que a vivida, já não faz sentido. É possível fugir do olhar, do encontro, e talvez, até do destino, mas não de si, da nudez da alma, do corpo já entregue em palavras nas madrugadas frias e quentes de horas desconexas. O que foi escutado ressoa no tempo, vozes ditas como confissão, guardadas no ventre da noite-mulher que acalma, doce vinho que amacia a alma e adormece a dor.


"Dormir com alguém é a intimidade maior. (...) Dormir, isso que é íntimo. Um homem dorme nos braços de mulher e sua alma se transfere de vez. Nunca mais ele encontra suas interioridades." (Mia Couto, Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra, 2003, p. 46.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Viagem






Para viajar basta existir, lembra Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. Mas é preciso a poeira da estrada nos sapatos, é preciso que olhar mergulhe nas paisagens e não seja mais o mesmo da partida. Nesta viagem fui minha maior companhia, reencontrei-me com a estrada e suas curvas, com suas sensações e eu mesma não era mais a mesma, como se minha sombra tocando os novos caminhos fosse me fazendo ganhar outras formas. Disforme de mim, feita pelas viagens, sendo tocada pelos caminhos e pelos o que nele conheço, não ouso querer voltar atrás, quero apenas esse novo rumo, sem pressa e sem destino definido no bilhete que seguro entre as mãos. Quero esse tempo impreciso, entre a chegada e as inúmeras partidas, até que um dia, estejamos no mesmo lado da plataforma, do cais ou numa fila de check in, num lugar qualquer, pois não importa nem onde estamos, e agora nem quem somos, mas o que um dia poderemos ser, depois das distâncias e demoras, um no olhar do outro.


"Só há um modo de escapar de um lugar: é sairmos de nós.
Só há um modo de sairmos de nós: é amarmos alguém."
Excerto Roubado aos Cadernos do Escritor. Mia Couto. A Confissão da Leoa, 2012, p. 27.

domingo, 1 de janeiro de 2017

Continuidades




"O amor nos tira o sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés,

Lya Luft