Báu de Espantos é o título de um livro do Mário Quintana, poeta que me encanta pela simplicidade com que mostra e fala da vida... "Em sua pobre eternidade, os deuses desconhecem o preço único do instante"...diz Quintana. Por isso que as imagens e palavras falem do presente e de como é possível olhar para ele e encantar-se...
sábado, 26 de janeiro de 2008
Eu, personagem
Eu, personagem
Se eu fosse um personagem, estaria num estado letárgico, atravessando as horas, sem saber ao que elas servem, encontrando algumas coisas para preenchê-las, mas sem saber ao certo o porquê... apenas deixando-me seguir ao correr do tempo...
Carregando certa dormência diante da vida e da urgência de ser ou de pelo menos parecer ser: alguém, alguma coisa, rasurando em mim a própria idéia de que seja preciso para ter uma vida ativa, estar fazendo coisas, mesmo sem sentido só para estar em sintonia com o que quer que seja...
Se eu fosse um dos meus personagens ... estaria vagando pelas ruas em busca de um sentido, do próprio sentido da narrativa, do próprio enredo onde me segurar, como se este fosse um corrimão e eu estivesse em profunda vertigem, caindo e deixando-me cair pela caducidade do corpo, pelo envelhecimento e cansaço da alma.
Sendo um dos meus personagens, estaria tocando o vazio no escuro, estaria enfiando as mãos nos bolsos como se tivesse alguma coisa para procurar neles, estaria tentando segurar com os olhos a mirada de alguém, como se isso pudesse me salvar desse vazio que nos atropela e nos corrói por dentro.
Estando na pele de um dos meus personagens, soltos, bandoleiros, perdidos, desmemoriados ou presos na faina cotidiana, eu estaria sem memória pelas ruas, tocando os meus pensamentos como os flashes das imagens que me viessem, sem que isso me desse nenhuma garantia de memória do que quer que seja. Teria em mim, apenas os sopros gelados do vento na rua ou o calor de alguma lembrança perdida dentro de mim, sem definição de rostos ou de corpos, apenas de hologramas perdidos num quadro inexpressivo do que eu poderia ter sido.
Mas ainda que nossos rostos se encontrem no emaranhado dos espelhos, refletindo pedaços do que imaginamos ser, não somos os mesmos ... somos narrativas, linhas e versos perdidos e encontrados, na imaginação de alguém, mas a face no espelho não é a mesma e nem poderia ser... fecho a página do livro com o telefone tocando...
As páginas das realidades seguem se tocando, mas cada uma com o seu próprio enredo...
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Um comentário:
Ai, lindo...
Saudades!
Beijos, querida...
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