Dizem que as Marias são mais fortes, maduras e parecem conhecer os
segredos da vida antes dos acontecimentos. Como se fossem bruxas, fadas ou como
se os anjos lhe insuflassem no berço ao pé do ouvido segredos que os homens só descobrirão
vivendo.
O fato é que sozinhas atravessam as madrugadas, carregando seus pesos, pensamentos
e sonhos. Tateiam as noites escuras, os dias invernosos e nem sempre entendem o
que em garatujas se imprimem em seus caminhos.
Chamam-nos dramáticas, exageradas, desesperadas, mas e quando nós
mesmas somos colo e abrigo para os dias de solidão dos que amamos? Nada medimos,
pois não nos sussurraram aos ouvidos medidas para o sentir. Seguramos mãos que não
vemos, atravessamos fuso horários, atropelamos os dias. Afagamos almas,
perdemos o sono e se descuidarmos perdemos até o juízo, porque somos crias das
intensidades. Amamos sem medidas,
desejamos sem racionalizar ou racionar. Debruçadas sobre o tempo acompanhamos
os rios, dialogamos com linguagens que nem sabemos que sabíamos. Falamos sozinhas
sobre os outros, sobre nós e nem tudo conseguimos dizer...nem tudo querem
ouvir...afundadas no pensar sonhamos o mundo...vivemos antes que os
acontecimentos nos cheguem, somos prenhes do futuro.
Aquecemos os dias na escuridão das noites,
Adoçamos as noites nas horas dos dias,
Esperamos o que nem sabemos se vai chegar.
Marias, vidas que se deitam sobre o papel, já que pela distância não se
podem deitar sobre os corpos amados.